Depoimento de Chico Noronha Almeida sobre o espetáculo CASULO apresentado pelo Palco Giratório do SESC.
RENASCIMENTO ARREBATADOR
Vi ontem à noite na Piollin e fiquei maravilhado, afinal de contas, colocar em cartaz na Paraíba um espetáculo de dança chamado Casulo, que trata de tradições inabaláveis e que já foram pesquisadas à exaustão-sobretudo pelos acadêmicos- e mesmo assim conseguir que a gente volte para casa satisfeito-contagiado por tudo que assistiu- é pq um renascimento deve estar ocorrendo na dança de nosso estado.
Casulo tem mesmo esse mérito: nos fazer renascer, e esse sentimento vale para todos que acompanham de perto o movimento da dança.
Unindo em cena informes como Butoh e Cabruêra, Marcos Brandão e a Cia Ensaio nos dão motivos de sobra para acreditar numa reviravolta. Movimento corporais densos estabelecem sintonia com a musicalidade instigante, altamente provocadora, e a platéia, que parece ter vindo de casa com essa sede vital, certamente estimulada pelo boca a boca favorável, desde que o espetáculo se instalou na programação cultural de João Pessoa. Modestamente, mas o tiro é certeiro. A pesquisa levou tanto tempo, num intercâmbio com Recife-PE, e se estendendo por todos os espaços onde Marcos Brandão matou um pouco sua curiosidade por conhecer pra entender profundamente como nosso desejo, nosso sentimento de culpa vem funcionando por séculos inteiros.
Sai da Piollin ontem convicto de que algo diferente e transgressivo pode nos redimir das verdades que são rotineiramente reinterpretadas como se fossem leis, como se estivessem definitivas. Ao propor outros personagens masculinos como referências para a crença espiritual de nossas mulheres tão sedentas de prazeres e ao mesmo tempo cheias de culpas e martírios, Marcos Brandão traduziu tudo, e o elenco da Cia Ensaio se encarregou belamente de nos revelar o resto da mensagem: Nós temos saídas sim e elas são misturadas, elegantes, múltiplas. E tem mais:essa realidade em que estamos metidos precisa ser questionada também através da arte.
Foi exatamante nesse liquidificador de onde saiam redes de algodão cru que Marcos Brandão nos apresentou situações e personagens muito parecidos conosco: brincantes que pululam nas ilhas culturais que permanecem isoladas nas cidades do interior nordestino, sexo e glória, tensão, ritmo de alta tensão em movimentos corporais que vivenciamos no dia a dia do lugar que escolhemos pra viver, amar, e tentar a felicidade. Estou ainda revigorado por conta de Casulo, espetáculo que abriu ontem a primeira etapa do Palco Giratório (Sesc) na Paraíba que vê indisfarçadamente sua dança ressurgir...
FICHA TÉCNICA
ResponderExcluirMARCOS BRANDÃO: Direção/ Coreografia/ Cenografia/ Design Gráfico
ANGÉLICA LEMOS/ JEAN OLIVEIRA/ MARIA BETÂNIA/ NAIARA MISA: Intérpretes
THIAGO SOMBRA: Direção Musical/ Trilha Sonora
ADAILSON COSTA: DJ/ Maquiador/ Preparação dos intérpretes para a cena
CLEISON RAMOS: Design e Execução da Iluminação
MARCOS BRANDÃO/ LUANA LIMA/ JAMILA FACURY: Design do Figurino
LUANA LIMA: Confecção do Figurino
JEAN OLIVEIRA: Contra regra
MANUELA ACIOLY: Fotografias
Depoimento de Chico Noronha Almeida sobre o espetáculo CASULO apresentado pelo Palco Giratório do SESC.
ResponderExcluirRENASCIMENTO ARREBATADOR
Vi ontem à noite na Piollin e fiquei maravilhado, afinal de contas, colocar em cartaz na Paraíba um espetáculo de dança chamado Casulo, que trata de tradições inabaláveis e que já foram pesquisadas à exaustão-sobretudo pelos acadêmicos- e mesmo assim conseguir que a gente volte para casa satisfeito-contagiado por tudo que assistiu- é pq um renascimento deve estar ocorrendo na dança de nosso estado.
Casulo tem mesmo esse mérito: nos fazer renascer, e esse sentimento vale para todos que acompanham de perto o movimento da dança.
Unindo em cena informes como Butoh e Cabruêra, Marcos Brandão e a Cia Ensaio nos dão motivos de sobra para acreditar numa reviravolta. Movimento corporais densos estabelecem sintonia com a musicalidade instigante, altamente provocadora, e a platéia, que parece ter vindo de casa com essa sede vital, certamente estimulada pelo boca a boca favorável, desde que o espetáculo se instalou na programação cultural de João Pessoa.
Modestamente, mas o tiro é certeiro.
A pesquisa levou tanto tempo, num intercâmbio com Recife-PE, e se estendendo por todos os espaços onde Marcos Brandão matou um pouco sua curiosidade por conhecer pra entender profundamente como nosso desejo, nosso sentimento de culpa vem funcionando por séculos inteiros.
Sai da Piollin ontem convicto de que algo diferente e transgressivo pode nos redimir das verdades que são rotineiramente reinterpretadas como se fossem leis, como se estivessem definitivas.
Ao propor outros personagens masculinos como referências para a crença espiritual de nossas mulheres tão sedentas de prazeres e ao mesmo tempo cheias de culpas e martírios, Marcos Brandão traduziu tudo, e o elenco da Cia Ensaio se encarregou belamente de nos revelar o resto da mensagem: Nós temos saídas sim e elas são misturadas, elegantes, múltiplas. E tem mais:essa realidade em que estamos metidos precisa ser questionada também através da arte.
Foi exatamante nesse liquidificador de onde saiam redes de algodão cru que Marcos Brandão nos apresentou situações e personagens muito parecidos conosco: brincantes que pululam nas ilhas culturais que permanecem isoladas nas cidades do interior nordestino, sexo e glória, tensão, ritmo de alta tensão em movimentos corporais que vivenciamos no dia a dia do lugar que escolhemos pra viver, amar, e tentar a felicidade.
Estou ainda revigorado por conta de Casulo, espetáculo que abriu ontem a primeira etapa do Palco Giratório (Sesc) na Paraíba que vê indisfarçadamente sua dança ressurgir...